top of page

Análise pela visão Fenomenológica de Husserl do Poema XXIV de Alberto Caeiro

POEMA XXIV

O que nós vemos das cousas são as cousas. Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra? Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver. Saber ver sem estar a pensar. Saber ver quando se vê. E nem pensar quando se vê Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!). Isso exige um estudo profundo. Uma aprendizagem de desaprender E uma sequestração na liberdade daquele convento De que os poetas dizem que as estrelas são freiras eternas E as flores penitentes convictas de um só dia. Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas Nem as flores senão flores. Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

 

Eu me desafiei a fazer uma breve análise fenomenológica de Husserl desse #poema do #AlbertoCaeiro. Se vocês tiverem sugestões ou quiserem comentar algo à respeito da análise, por favor fiquem à vontade.


 

Como sabemos a #fenomenologia de Husserl propõe um novo método de investigação, que pretende apreender o fenômeno de maneira rigorosa. Fenômeno aqui como a aparição das coisas à consciência, afim de perceber a sua essência. "ir ao encontro das coisas mesmas". O que isso quer dizer? Que ao invés de partirmos de dados empíricos para chegar ao fenômeno, partimos do fenômeno para conhecer sua essência. O que já percebemos na primeira estrofe: "O que nós vemos das cousas são as cousas". Na segunda estrofe quando ele diz: "O essencial é saber ver/Saber ver sem estar a pensar". Podemos ver o pensar como pensar previamente sobre à coisa que se está observando. Devemos olhar as coisas como se fosse a primeira vez que à olhássemos. A marca de #Husserl está ligada à intencionalidade da consciência. Isso significa que a consciência é sempre consciência de algo. Assim, o objeto só pode ser definido na relação com a consciência, é sempre o objeto-para-um-sujeito. Na terceira estrofe: "Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!)." Ter uma atitude fenomenológica em relação às coisas é despir-se dos seus conhecimentos prévios, a redução fenomenológica, #epoché. Epoché é a suspensão dos juízos de valores, ou seja, colocar entre parênteses o mundo quando se está olhando para o fenômeno. A essência desse fenômeno está velada pelas roupas que vestimos de mundo. Os céticos (de quem Husserl pegou "emprestado" a epoché) não questionam a #existência ontológica de mundo, mas sim propõem uma "distância em relação às validações naturais ingênuas". Paradoxalmente no terceiro verso da terceira estrofe vemos que temos que aprender a desaprender. Aprender à ver as coisas por elas mesmas.


O que tudo isso significa? Bem resumidamente, que o filósofo Husserl e Alberto Caeiro (#FernandoPessoa) propõem que olhemos o mundo (e isso dentro da psicoterapia também) como se fosse a primeira vez que o olhássemos. Por isso em terapia perguntamos, por exemplo: "O que é #amor PARA VOCÊ?"/ "Qual a SUA percepção de #alegria?". Olharemos para essas coisas suspendendo todo o saber prévio que temos sobre elas para que possamos compreender seu significado para quem as está olhando. Dessa forma compreendemos o indivíduo pelo o que ele apresenta e não de acordo com pressupostos que vestimos.


1.258 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page